PEGANDO RABEIRA

Comentários cruzados a respeito de matérias publicadas na grande imprensa.

26.5.04

Análise Estatística Carnavalesca (Panis et Circensis)

A Agência Brasil noticiou hoje: “Dados da Pesquisa Nacional de Amostra em Domicílio, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2001, revelaram que entre os 10% mais ricos da população do País, 23,4% freqüentam cursos da educação superior. Já entre os 40% mais pobres, apenas 4% estão matriculados nesse nível de ensino. As informações serão publicadas na próxima edição da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC).”
Vamos agora à análise estatística carnavalesca dos referidos dados.
Tomando, para facilitar nossos cálculos, um país de 30.000.000 milhões de indivíduos em faixa etária ideal para adentrar os portais de uma universidade, segundo esta pesquisa teríamos o seguinte:
- 10% seriam indivíduos ricos e corresponderiam a 3.000.000 de indivíduos e destes 10% ou 300.000 indivíduos irão à faculdade;
- 40% seriam indivíduos pobres e corresponderiam a 12.000.000 de indivíduos e destes 4% ou 480.000 indivíduos irão à faculdade.
Faltam ainda os outros 50% da população total que não foram mencionados no estudo, mas que certamente também da qual deve ter uma parcela significativa de gente indo à Universidade.
Considerando ainda o índice de absenteísmo e também de desistência final para todos os cursos (que não é baixo no Brasil...) sendo que várias faculdades reportam que apenas 40% dos que se matriculam terminam o curso, teremos ainda:
- dos 300.000 indivíduos considerados ricos, 120.000 estariam completando seus cursos, e
- dos 480.000 indivíduos considerados pobres, 192.000 estariam completando os seus.
Ou seja, a maioria dos formandos ainda assim seria dos considerados pobres e não dos considerados ricos.
Daí, uma pergunta: por que as coisas não mudam já que a ascensão social dos indivíduos considerados pobres existe na prática e de fato? Eles teriam se transformado em ratos gordos capitalistas e esquecido suas origens ou o quê? E o que dizer das cotas para isso e para aquele outro contingente, seria esta a solução? Solução para o quê?
Considerando que o Estado não tem como construir, aparelhar e manter a estrutura necessária e professores em número suficiente para atender o maior número de indivíduos em todo o território nacional, não seria o caso de:
1)Ter uma política pública de maior alcance social permitindo cursos à distância como há muito se faz na Inglaterra (há mais de 100 anos), EUA, África do Sul, Índia, etc?
2)Estimular o financiamento de alunos para fazerem seus cursos? Se o Estado pode financiar o desenvolvimento de uma nova planta industrial (que necessariamente importa em aquisição de novos conhecimentos, re-treinamentos, etc) servindo até mesmo como aval, não poderia este mesmo Estado servir como Patrono / Avalista de seus cidadãos para que estes pudessem fazer cursos superiores?
3)Não seria apenas uma decisão política e uma implantação interessante de empréstimo com carência como é feito para desenvolver áreas no meio da Amazônia acrescido de algum tipo de seguro e mais um contrato de serviço por tempo determinado, pós-término da faculdade, numa área remota e necessitada do país como se faz na China?
A quem realmente interessa esse negócio de cotas, preferência para alunos de escolas públicas, etc?
A quem realmente interessa as coisas continuarem como estão, nas quais o Estado privilegia as grandes corporações emprestando a elas dinheiro grande a juro pequeno e com carência para pagamento e direito de repactuação ad nauseam para criarem uns poucos empregos?
Em pleno Século XXI, no qual o conhecimento é tido como o verdadeiro capital, não deveríamos estar desenvolvendo mentes ao invés de estarmos perpetuando modelos que já demonstraram estar equivocados ao longo de décadas, de séculos?
Até quando nossos governantes insistirão em construir cercas ao conhecimento agindo contra o futuro de nossa Nação ao invés de construir pontes que realmente permitam o acesso da maior parte da população ao Saber?
Ou será que tudo por aqui, abaixo da linha do Equador, se resumirá em sol, praia e carnaval, a versão tropical do “panis et circensis” dos antigos romanos?
Não daria para inventar uma PPP (Parceria Público-Privada) para bancar essa idéia?